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VIVER SEM EXCESSO E SEM MÍNGUA: ÉTICA E EMPREENDEDORISMO
SE ENCONTRAM
CREARMUNDOS
recebe PAULO VOLKER, brasileiro, filósofo, escritor, profesor,
empreendedor, entre outras tantas coisas. Fértil! Agudo!
Criativo! Profundo! - Todos adjetivos que bem cabem para descrever
aspectos interessantes da personalidade de nosso entrevistado. Esperamos
que nossos(as) leitores(as) tenham uma boa interaçao com
as idéias desse encantador pensador brasileiro.
CREARMUNDOS: Conte ao nosso leitor algo sobre sua trajetória
profissional e a que tipo de atividades se dedica nesse momento.
PAULO VOLKER: Trabalho em uma empresa não-estatal
brasileira encarregada de apoiar tecnicamente a micro e pequena
empresa e difundir a cultura empreendedora (SEBRAE). Trabalho na
área internacional, com projetos na Itália, Japão
e América Latina. Venho de alguns anos de trabalho autônomo
de consultoria para escolas e empresas em geral, tratando do tema
Ética. Temos livros didáticos publicados sobre esse
tema, que são usados em mais de 400 escolas em todo o Brasil.
Minha formação é na área de Filosofia
e pós-graduação em Ciências Políticas.
CREARMUNDOS: Explique seus conceitos de ETICA, EMPREENDEDORISMO.
Em seguida, apresente as possíveis relações
entre esses dois campos.
PAULO VOLKER: Ética é a atitude
fundada em um conjunto de valores sobre a melhor maneira de viver,
de viver em sociedade e de ser, numa dimensão da realidade
que leve em conta a história e um projeto. Empreendedorismo
é a nossa atitude em relação às riquezas,
seja como consumidores, como conservadores ou como produtores. Evidentemente,
riqueza no sentido amplo da palavra, inclusive a riqueza monetária.
A relação entre os dois campos é óbvia,
já que a nossa relação com a riqueza se dá
a partir de valores éticos.
CREARMUNDOS: Você considera importante que esses dois campos
estejam unidos? Por que? Se a resposta for afirmativa você
poderia explicar para quem é importante?
PAULO VOLKER: Esses dois campos sempre estiveram
unidos em toda a história humana, em todas as culturas. As
riquezas sempre foram objetos de normas, regulações
e convenções, além, evidentemente, de mitologias
e outras formas de significações imaginárias.
Como as riquezas definem o destino das nações e das
pessoas, ter, produzir, controlar e circular as riquezas é
um dos fatores constituidores das sociedades.
CREARMUNDOS: Que tipo de produção você tem
feito unindo esses dois campos? O que te motiva a realizar essas
produções?
PAULO VOLKER: Estamos agora finalizando uma coleção
de livros didáticos para o ensino fundamental sobre Ética
e Empreendedorismo. Angélia Sátiro e eu estamos procurando
discutir e provocar os alunos para refletir sobre o processo de
produção de riquezas, pensando nas conseqüências
e nas responsabilidades advindas da priorização da
riqueza monetária, por exemplo, em detrimento da riqueza
inovativa, da riqueza intelectual. Pensamos que a realidade atual,
onde a riqueza monetária se tornou hegemônica, é
o principal motivo para falarmos das outras riquezas e da necessidade
de preservá-las, produzi-las, consumi-las e fazê-las
circular.
CREARMUNDOS: Quais seriam as conseqüências dessa união
no campo da educação?
PAULO VOLKER: Principalmente garantir que não
haja empobrecimento da capacidade das pessoas em produzir riquezas,
como o conhecimento, a inovação, a comunicação,
a espiritualidade, entre outras. Mais importante ainda, tentarmos
equilibrar a importância das riquezas, a favor da multiplicidade
delas, contra a absoluta unidimensionalidade da riqueza monetária.
CREARMUNDOS: Você quer deixar alguma mensagem aos nossos leitores.
PAULO VOLKER: Ser rico é uma condição
da humanidade, do humano, da pessoa. Ser pobre é a destruição
dessa humanidade. Ser pobre financeiramente não é
o pior malefício da modernidade. O pior, a verdadeira barbárie
instalada, é a perda da capacidade das pessoas em reconhecer
as riquezas que todos podemos criar, acumular, trocar, circular,
realizar. O pior é ver que as pessoas ainda não perceberam
a imensa riqueza ambiental que vai sendo consumida. O pior é
ver as pessoas abrindo mão das suas riquezas individuais,
como a espontaneidade, a criatividade, a intuição,
a sabedoria, em nome da busca da riqueza monetária, que nunca
se realiza. É muito triste ver as pessoas empobrecendo, como
que realizando aquele poema de Mario de Sá Carneiro “...
eu morro de desdém frente ao tesouro/ morro a mingua, de
excesso.”
CREARMUNDOS agradece a participaçao generosa desse agudo
pensador contemporâneo e espera que o(a) leitor(a) tenha se
sentido(a) instigado(a), já que nosso entrevistado é
um grande provocador!
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