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Entre a Teoria e a Prática da Criatividade
SARA BAHIA & SARA IBÉRICO NOGUEIRA
in G. Miranda & S. Bahia (Orgs).(2005, no prelo). Psicologia
da educação: Temas de Desenvolvimento, Aprendizagem
e Ensino. Lisboa: Relógio d’Água
saraiberico@hotmail.com
Quando em 1950, na reunião da APA, Guilford lançou
o repto para o estudo da criatividade em pessoas comuns mal podia
imaginar os avanços e os recuos que iriam caracterizar esta
temática no meio século que se seguiu.
Em termos teóricos, o conceito de criatividade foi de certo
modo esclarecido, embora a consciência das múltiplas
variáveis envolvidas neste processo tenha acautelado a procura
de uma linha orientadora de uma intervenção que a
promovesse em contextos educacionais.
Para uma explicação do que é a criatividade
confluem factores cognitivos, associados à capacidade, às
competências, aos estilos de pensamento e ao conhecimento
num dado domínio; factores motivacionais, associados à
motivação intrínseca e à orientação
para a tarefa; factores de personalidade, nomeadamente o sentido
de autoeficácia e a capacidade de arriscar e desafiar, e,
ainda, factores ambientais, que apoiam e recompensam os esforços
criativos.
Criatividade e alguns dos seus mitos
IDEIA: Percebermos como as definições mais banalizadas
de criatividade pecam pela invasão, e deformação,
que as nossas teorias implícitas lhes imprimem, obrigando-nos
a uma reflexão que abra caminho às definições
mais psicologicamente correctas.
Digamos que algumas das ideias mais recorrentes sobre criatividade
passam por (1) se considerar o acto criativo como o resultado de
um processo inconsciente, (2) se entender a criatividade enquanto
inspiração súbita, e, (3) se considerar a criatividade
como processo inerente a um génio que, na visão ptolomaica,
centre sobre si todas as qualidades necessárias à
emergência de um produto criativo (Weisberg, 1986).
Alguns dos relatos sobre a forma como Poincaré fez a prova
das funções fuscianas ou como Mozart afirma ter composto
algumas das suas obras musicais, em condições que
não pressupunham um trabalho consciente e moroso, levou muitos
dos investigadores a aceitar que havia um lapso de tempo entre a
altura em que os criativos tinham parado de trabalhar e a produção
criativa propriamente dita, postulando, por consequência,
a existência de uma forma inconsciente de raciocínio.
Em alternativa, talvez devamos considerar as fases por que passam
os actos criativos, desde a preparação (longo período
de trabalho consciente), à incubação (trabalho
inconsciente sobre o assunto, mesmo que nos pareça ter desligado
dele), à iluminação (que ocorre se o trabalho
de incubação for bem sucedido e quando rapidamente
surge uma solução para o problema) e à verificação
(quando se tem de trabalhar sobre a confirmação da
veracidade da solução), como forma de desmistificarmos
a preponderância que se quer dar ao processo inconsciente
(incubação) (Wallas, 1926, cit. por Torre, 1993).
Tudo indica que o trabalho inconsciente de selecção
de alternativas e testagem das melhores combinações
entre ideias apenas será possível se tiver havido
previamente um amplo trabalho consciente e de selecção
de muitas das alternativas e combinações de ideias
possíveis.
Perante o problema “um homem levou ao altar 20 mulheres da
mesma cidade. Todas essas mulheres ainda estão vivas, não
houve divórcios, não é permitida a poligamia,
nem esta regra foi violada. Como foi possível?”. A
solução talvez nos surja de forma repentina, como
um insight. Quando nos lembramos de repente de uma palavra para
as palavras cruzadas ou quando tentamos resolver um problema durante
um longo período de tempo até que a solução
nos ocorre quase espontaneamente, poderemos falar em insight. Percebemos
que a forma de resolver muitas das charadas com que nos confrontamos,
pode exigir uma nova forma de “ler” aquela informação
que nos parece tão familiar e daí surgir o insight.
Contudo, não parece muito aceitável que o insight
implique um corte radical com a experiência anterior, nem
que baste estar sem fazer nada, para que o insight surja (Weisberg,
1986).
Abordando o terceiro mito, de que a criatividade se baseia num conjunto
de características que definem o génio, veremos, ao
longo do trabalho, como essa visão se torna extremamente
redutora, em primeiro lugar, por esquecer a multiplicidade de variáveis
contextuais que ajudam à emergência e até ao
próprio reconhecimento da criatividade, e, em segundo lugar,
porque pressupõe a existência dessas características
de modo permanente e imutável que justificariam uma produção
excelente, fixa e regular, o que realmente não acontece mesmo
a nível dos grandes criativos (Simonton, 1988).
Em torno de uma definição
IDEIA: Explicar que é difícil de definir e complexo
de estudar, mas que vale a pena.
Muitas vezes a criatividade é referida como algo impossível
de definir, descrever ou de ser copiada, pois os actos criativos
não obedecem aos critérios da frequência e previsibilidade
tão caros a todas as ciências que pretendem ultrapassar
o estádio da descrição dos fenómenos
para o de explicação dos mesmos. Se a criatividade
desafia qualquer definição (Torrance, 1988), então
o seu estudo torna-se num paradoxo. O que escapa a uma definição
não pode, à partida, ser objecto de estudo, porque
não sabemos o que estudar. Basicamente, não podemos
teorizar sobre aquilo que não conseguimos definir. No entanto,
as tentativas de definição, explicação
e interpretação da criatividade vão avançando
de uma forma esclarecedora, procurando uma intervenção
eficaz e necessária nesse domínio do desenvolvimento
humano, uma vez que os teóricos são unânimes
em afirmar a sua importância na sociedade actual.
De facto, as transformações tecnológicas radicais
que caracterizaram o século que passou deram lugar a uma
necessidade premente de inovação, de novas soluções
mais criativas, de produção de novas perspectivas
e de pontos de referência diferentes. O lançamento
do Sputnik constituiu um dos mais fortes abalos à convicção
americana sobre a quase infalibilidade do sistema educativo americano
e que obrigou a uma revisão e questionamento sobre todo o
manancial de conhecimentos, e talvez apenas conhecimentos, que se
pretendia transmitir nas escolas.
Apesar de difícil de definir e complexo de estudar, vale
a pena, como referem Sternberg e Lubart (1996), investir na criatividade.
Até porque se pretendemos avanços no conhecimento,
quer teóricos quer práticos, não vale a pena
colocar a tónica na capacidade de aprendizagem e memória,
na medida em que as novas tecnologias chegam a superar a capacidade
humana, nem mesmo nos processos interpessoais, já que a inovação
muita vezes tem as costas voltadas para o que a sociedade julga
ser o adequado. A tónica deve ser colocada na criatividade,
isto é, na produção de ideias novas poderosas
sobre os vários domínios do conhecimento científico,
tecnológico, artístico ou humanístico. O desenvolvimento
da sociedade não se pode cingir meramente à reprodução
de conhecimentos. Tem de investir na sua produção,
tal como Einstein avançava. O próprio exercício
da cidadania e a construção de valores éticos
reclamam que a criatividade seja valorizada. Novas soluções
para grandes problemas como a pobreza ou o aumento demográfico
não aparecem por magia. Urge trabalhá-las criativamente
tendo uma meta em mente no sentido de orientar e motivar a determinação
necessária para encontrar soluções inovadoras.
A criatividade definida como uma matriz construtiva de um novo estilo
de pensamento e de expressão (Prado-Diez, 1999) acaba por
ser suficientemente abrangente para abarcar os vários quadros
de referência teóricos que a procuram estudar e, ao
mesmo tempo, ilustrar a relevância do seu estudo nos múltiplos
domínios pessoais, sociais e profissionais.
É neste sentido que a comunidade escolar (que, indubitavelmente,
espelha a sociedade em que vivemos) tem vindo a valorizar a criatividade
como um objectivo educacional fundamental. Talvez porque a escola
veja a promoção da criatividade como uma resposta
de futuro, esta constitui uma componente da avaliação
do desempenho escolar. Contudo, esta tónica na criatividade
pode ser problemática, na medida em que o conhecimento actual
sobre a temática não nos esclarece sobre o que esta
é, como se determina e para que serve. Só esclarecendo
o que é, como a criatividade se processa, avalia e estimula
e por que vale a pena nela investir, é que podemos dimensioná-la
e promovê-la de forma fundamentada.
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Criatividade: Uma reflexão secular
IDEIA: Compreender que desde sempre o Homem se questiona sobre o
acto criativo, mas ainda não conseguiu uma compreensão
plena.
Não obstante a polémica em torno de uma definição
abrangente e esclarecedora, ninguém rebate a ideia de que
a criatividade é um processo complexo multifacetado que envolve
a definição e redefinição de problemas
(Sternberg & Lubart, 1991) e que envolve a combinação
do conhecimento já existente numa nova forma através
da aplicação de ideias “antigas” a novos
contextos, ou através da perspectivação inovadora
de conhecimentos “antigos”, ou, ainda, através
de um rompimento com o passado, emprestando o que já se conhece
a novos contextos (Sutton, 2002).
De facto, desde sempre que o ser o humano se questiona sobre a criação,
e consequentemente, sobre a sua própria capacidade e necessidade
de criar. A arte, enquanto expressão da capacidade criativa
do Homem, terá surgido no Paleolítico Superior. Segundo
Boornstin (1992), o primeiro artista foi aquele que primeiro se
enfeitou há 40 000 anos atrás. A descoberta feita
pelos povos do Neolítico sobre a capacidade para pintarem
nas grutas imagens cheias de vida dos animais que caçavam
constitui, segundo Boornstin (ibidem), o primeiro grande salto no
autoconhecimento do homem. A par das pinturas rupestres, neste período
desenvolvia-se a escultura provavelmente como forma de garantir
a sobrevivência humana, sendo um dos exemplos mais antigos
de escultura, a Vénus de Willendorf, de 20 000 a. C. Independentemente
das razões que podemos induzir terem motivado as primeiras
expressões criativas, a verdade é que a criatividade
esteve desde sempre associada à religião – ao
Criador Supremo, nas suas diversas representações
culturais. O peso da religião, da ideia de um Deus que, tudo,
cria, seleccionando alguns eleitos para veicular a sua palavra divina,
foi tão forte que apenas em 1304 vemos surgir, pela mão
de Giotto, “A Deposição de Cristo”, um
fresco que se apresentava assinado, desafiando uma das regras mais
sagradas até ai vigente: a da não valorização
própria de forma a melhor enaltecer a capacidade criadora
de Deus (Kraube, 2000).
A História também nos ensina que a criatividade nas
suas diversas expressões foi sendo uma constante da actividade
humana.
Apesar da discussão em torno da melhor palavra para designar
este processo – criatividade, processo criativo, pensamento
criativo, ou divergente ou lateral, produto ou expressão
criativa, que algumas páginas discutem como representando
fenómenos diferenciáveis, a questão que ainda
prevalece no estudo é a de procurar uma definição
suficientemente abrangente e esclarecedora do que está em
causa quando se cria algo inovador.
Depois da construção das pirâmides do Antigo
Egipto, bem como dos megálitos ou de obras pré-históricas
monumentais como Stonehenge, as primeiras perspectivas sobre a criatividade
na Grécia Antiga continuavam a acentuar as suas origens místicas.
O acto criativo era visto como tendo uma origem divina, fortemente
inspirado pelos deuses e pelas musas, as nove filhas de Zeus inspiradoras
das artes e das ciências, de entre as quais curiosamente se
destaca Mnesis – a mãe da memória, conceito
que hoje surge como indissociável de uma compreensão
integrada da criatividade. A ideia de criatividade associa-se à
ideia de génio, ou seja, de mensageiro divino.
Os produtos criativos são completos e acabados, produzidos
por saltos que não se percebem como e de onde vêm.
Por ter sido olhada como algo espiritual e, como tal, intocável
durante muitos séculos, a criatividade escapava ao estudo
científico.
Em Roma Antiga o termo criatividade possuía vários
sentidos. As suas raízes etimológicas têm origem
no termo latim creare que significava dar existência a, criar,
formar, procriar, fundar, produzir. Alguns termos sinónimos
incluíam generare utilizado para expressar a ideia de gerar,
criar, produzir, compor; gignere, no sentido de gerar, criar, dar
à luz, produzir, causar e, ainda, facere, isto é,
fazer, executar, eleger, fornecer. Creare era utilizado em diversos
sentidos. Um destes sentidos está patente no uso que ainda
hoje lhe damos: inventar, idealizar. Parere significava aparecer,
estar presente, mostrar-se, cumprir, executar; eficcere significa
fazer, executar, concluir, cumprir; edere, anunciar, publicar, declarar,
ordenar, determinar.
Os termos próximos eram: excogitare – pensar, reflectir,
imaginar, inventar; invenire – encontrar, descobrir, inventar,
obter; reperire – encontrar, descobrir, adquirir, reconhecer,
imaginar, inventar, mostrar-se; machinari – inventar, construir,
maquinar, planear; comminisci – imaginar, fingir, inventar.
Um outro sentido denotava a ideia de criar na imaginação.
Estava associado a cogitare, que significava pensar, meditar, considerar;
fingere, modelar, formar, representar, criar, produzir, compor,
fingir, dissimular. Idealizar, imaginar eram duas ideias que lhe
estavam associadas, quer no sentido de representar no espírito
(de novo cogitare e fingere, e, ainda, cogitatione – pensamento,
reflexão, resolução, projecto; e as expressões
mente complecti – mente abrangente e cogitare assequi –
pensamento conseguido). As teorizações actuais sobre
a criatividade assumem muitos destes sentidos originais. Embora
as questões que foram debatidas durante mais de um século
ainda permaneçam, a criatividade já é vista
como um processo multidimensional, onde o contexto em que ocorre
deve também ser considerado. Porém, o caminho até
esta perspectiva foi longo, sinuoso e algo atribulado pela falta
de consenso.
De facto, a perspectiva mística da criatividade prevaleceu
até praticamente aos nossos tempos. Provavelmente, o momento
histórico onde a expressão criativa mais se revelou,
quer em termos conceptuais quer de prática, terá sido
a revolução intelectual do século XVII e início
do século XVIII (Jardine, 1999). Este impulso abriu caminho
para a possibilidade de estudar séculos mais tarde a expressão
criativa à luz do que viria a ser a nova ciência da
psicologia.
Os novos horizontes do conhecimento trazidos pelo Século
da Luz fermentaram a união das humanidades e ciências
naturais. Personalidades eminentes interessavam-se tanto pela ciência
como pela cultura e as artes, sendo Locke, Newton ou Wren simultaneamente
exímios físicos, médicos, botânicos,
astrónomos, filósofos, escritores, arquitectos e artistas.
A combinação da mente e da mão permitiria,
assim, a inovação tecnológica e científica
que se seguiria.
Quando o conceito da inteligência começou a ser estudado
de forma científica, com o nascimento da Psicologia enquanto
ciência autónoma e com o impulso de pioneiros como
Sir Francis Galton, a criatividade e a inteligência eram vistas
como complementares e paralelas: para os factoralistas ingleses,
os indivíduos mais criativos eram os mais inteligentes e
haveriam de sobressair e de triunfar na vida. A inteligência
era vista como um factor de sucesso no trabalho e na escola o que
motivou, no início do século XX, o pedido que o Ministério
da Educação Francês fez a Alfred Binet, no sentido
de ele discriminar as crianças que estariam ou não
aptas ao ensino regular e donde vem a resultar a escala métrica
Binet-Simon que data de 1905. Muitos autores ainda hoje adoptam
a ideia da existência de um parentesco entre a criatividade
e a inteligência, embora alguns teóricos advirtam para
a falta de correlação entre a inteligência e
a criatividade, o QI e o sucesso académico.
Talvez uma das posições mais consensuais seja a da
correlação moderada entre a criatividade e a inteligência
e que se retrata na chamada Teoria do Limiar de Torrance (1976),
que pressupõe a existência de um limiar de inteligência
(ainda não definido para cada uma das áreas do conhecimento,
mas que em alguns casos poderá rondar um QI de 115-120) para
que a criatividade se possa manifestar, e para aquém do qual
as manifestações criativas teriam uma existência
quase independente. Digamos que a inteligência seria uma condição
necessária (embora não suficiente) ao surgimento da
criatividade e que perante elevados níveis de inteligência
poderíamos encontrar os mais diversos graus de produção
criativa.
O Estudo Sistemático da Criatividade
IDEIA: Há um século a criatividade era estudada a
partir de biografias de figuras eminentes e, em 1950, passou a ser
estudada de forma mais abrangente até chegar às teorias
que realçam os múltiplos factores envolvidos.
Em 1877, o termo criativo surge no suplemento do Dicionário
de Língua Francesa, aludindo a todo o sujeito que teria o
dom de criar. No entanto, e muito provavelmente devido ao peso da
teologia tradicional que assumia Deus como o único criador,
este termo continuou a ser subestimado e preterido a favor dos termos
“originalidade” e “imaginação”
(Torre, 1993).
Mas é só no século XX que o termo criatividade
entra para o vocabulário psicopedagógico e surge a
tentativa de operacionalização do conceito por parte
de psicólogos e educadores, que reflectem e investigam sobre
o tema. Esta tarefa não se tem tornado fácil, tendo
na sua origem um grande entrave – as abordagens filosóficas
– sempre pioneiras no desbravar de qualquer domínio
do conhecimento e que se reflectiam, por exemplo, na assunção
da criatividade como uma força vital ou como uma força
cósmica (Stoltz, 1999).
Uma das primeiras formas de cariz científico de estudar a
criatividade surge a partir das abordagens dinâmicas, desta
feita inspirada pela teoria de Sigmund Freud e pelas biografias
comentadas que Freud escreveu. Do ponto de vista psicanalítico,
grandes escritores e artistas produziam criações como
forma de expressarem desejos inconscientes como o poder, a riqueza,
a fama, a honra e o amor. A par e passo, o movimento surrealista,
fortemente ligado à psicanálise, abre portas a inúmeras
produções e interpretações criativas.
No início do século proliferaram estudos sobre a criatividade
a partir das biografias de pessoas famosas, nomeadamente de estadistas,
artistas e cientistas. O estudo de criadores eminentes ganha, assim,
popularidade, embora não seja conclusivo e muitas vezes pouco
se avance na explicação deste processo. Contudo, estávamos
na época em que o movimento surrealista e a psicanálise
encontravam forte inspiração nas suas produções.
De facto, inúmeros estudos procuraram, ao longo das últimas
décadas, descrever e explicar as características dos
criativos, se bem que este tipo de investigação apresente
limites, nomeadamente associados à dificuldade de encontrar
sujeitos, ao problema da medida dos constructos teóricos
propostos e à imparcialidade na selecção e
interpretação do estudo de caso (Weisberg, 1986).
O estudo de Vervalin (1971) revelou-se abrangente e esclarecedor
por incluir 600 pessoas criativas nos campos da literatura, arquitectura,
investigação nas ciências físicas, engenharia
e matemática.
O autor conclui que não existe nenhum estereótipo
da pessoa criativa, embora todos apresentem certas semelhanças
que se prendem com a curiosidade intelectual e presença de
um QI elevado. Para além disso, estes sujeitos criativos
pareciam discriminar e observar de maneira diferenciada e estar
atentos e concentrados, conseguindo transferir a sua atenção
adequadamente, apresentando ampla informação que lhes
permitia combinar, escolher e extrapolar para resolver problemas
que requerem uma elaboração inovadora. Uma característica
presente nestes criativos era a capacidade de “jogar”
mentalmente, conseguindo elucubrações e reprimindo
os bloqueios mentais que surgiam.
Para além de serem intelectualmente dotados, também
respondiam emocionalmente de forma positiva, demonstrando empatia
não só por pessoas como também por ideias divergentes,
tolerando as ambiguidades, aceitando envolver-se em problemas complicados.
O seu nível de autoconhecimento era elevado, analisando e
reagindo à sua maneira de ser e de estar e apresentando uma
maior percepção das suas características psicológicas,
apesar de na sua maioria apresentarem uma introversão. Não
pareciam depender daquilo que os outros pensavam sobre eles e sentiam-se
bastante libertos de restrições e inibições
convencionais, sendo genuinamente independentes nas suas ideias
e flexíveis relativamente a meios e objectivos. Interessavam-se
menos pelos produtos ou pelas obras em si e mais pelos seus significados
e implicações. Pareciam ser comunicativos e possuir
competências verbais bem desenvolvidas, não se preocupando
em controlar os impulsos. Muitos deles referiram ter tido infâncias
problemáticas ou mesmo infelizes. Contudo, há que
distinguir entre criatividade histórica e criatividade psicológica
(Boden, 1994) ou a alta Criatividade da criatividade quotidiana
(Stein, 1987; Treffinger, 1987).
Ainda no início do século, propõe-se o estudo
das qualidades imaginativas. Em 1916, Chassel publica testes sobre
a originalidade e, em 1926, Terman publica o primeiro grande estudo
sobre sujeitos com qualidades excepcionais. Paralelamente, os teóricos
da Gestalt e muitos pintores teorizam sobre a criatividade e o processo
artístico. Nesta época tão prolífera
em termos de debate intelectual, nas ruas de Paris e um pouco por
toda a Europa, a questão da criatividade surge como um tema
recorrente nas várias produções de cientistas
e artistas.
A Teoria da Gestalt avança com os processos cognitivos de
ordem superior e Wertheimer perspectiva a criatividade como um processo
de reestruturação de ideias, obrigando à destruição
de uma gestalt em favor de outra melhor. Simultaneamente, os artistas
preocupam-se com a reflexão sobre a criatividade. Marcel
Duchamp desafia a própria arte; Wassily Kandinsky publica
sobre o espiritual na arte e sobre a gramática da criação
e Paul Klee escreve a “Confissão de um Criador”
e avança com um esboço sobre o ensino artístico.
Foi, contudo, o discurso de Guilford perante os psicólogos
membros da APA, em 1950, que motivou o estudo de carácter
científico em oposição às reflexões
mais especulativas sobre o processo criativo. Surgem como consequência
as abordagens psicométricas, que têm como primeiro
objectivo o estudo das diferenças individuais na criatividade,
bem como todo um manancial de abordagens pragmáticas à
criatividade que acabaram por produzir efeitos maléficos
na clarificação e reflexão sobre o conceito
(Sternberg & Lubart, 1996). O objectivo destas abordagens era
estimular e desenvolver o processo criativo, sem, contudo, procurar
compreender e validar as ideias subjacentes às tentativas
de estimulação que incluíam, por exemplo, a
ideação criativa e as subsequentes aplicações
aos mais variados contextos externos à psicologia.
Getzels e Jackson (1962) foram os pioneiros nos estudos com crianças
muito criativas e com um quociente de inteligência elevado.
Permitiram, assim, a ampliação do conceito de sobredotação,
bem como uma maior ênfase nos aspectos cognitivos da criatividade,
como sejam a originalidade, a fluidez e a flexibilidade de ideias,
ou a sensibilidade aos problemas. Nesta esteira, Torrance avança
em 1975 com uma bateria de testes para medir a produção
criativa. Renzulli (1986) inclui a criatividade na sua teoria dos
três anéis da sobredotação, a par da
capacidade geral ou específica acima da média e da
motivação intrínseca.
Depois de propor a teoria factorial da estrutura da inteligência,
composta por 120 factores agrupados em 3 categorias: conteúdos,
produtos e operações, Guilford (1986) define a criatividade
como um processo mental através do qual a pessoa produz informação
que não possuía e sugere que tal como a inteligência,
a criatividade segue uma distribuição normal, pelo
que todas as pessoas acabam por ser criativas, embora em diferente
grau. Este processo mental é referido por este autor como
pensamento divergente, ou seja, a capacidade de criar diferentes
respostas face a um mesmo problema.
Paralelamente, desenvolviam-se modelos explicativos sobre o conceito
e o processo criativo. A criatividade é vista como um resultado
extraordinário de um processo ordinário (Weisberg,
1986) em que este é perspectivado como um subsistema da inteligência
a par de possíveis insights que dependem fundamentalmente
do uso de processos cognitivos convencionais aplicados ao conhecimento
armazenado na memória.
Outro modo de perspectivar o processo criativo é o da distinção
entre a criatividade comum e a criatividade produtiva nos diferentes
domínios do conhecimento. Stein (1987) e Treffinger (1987)
avançam com o conceito de criatividade quotidiana (little
c), em oposição à alta criatividade (Big C)
patente nos grandes criadores do mundo da ciência e das artes,
procurando responder à questão da frequência
ainda em debate no seio dos teóricos da criatividade.
Para muitos autores, a criatividade com C grande é vista
como assimetricamente distribuída, ou seja, não segue
uma curva de distribuição normal na população.
O seu perfil seria o de curva em J invertido, portanto altamente
assimétrico, o que quer dizer que apenas uma pequena minoria
de sujeitos contribui com a maior parte da produção
criativa (científica ou artística) e que a grande
maioria dos autores contribui com muito pouco ou nada para a produção
criativa total. Neste sentido, e segundo Simonton (1988), poderíamos
afirmar que a distribuição dos produtos criativos
é altamente elitista.
Com a revolução cognitiva, algumas perspectivas unidisciplinares
acentuam a relevância dos processos e das estruturas mentais
subjacentes ao processo criativo, como as de Finke, Ward e Smith
(1992) que descrevem os processos mentais envolvidos na invenção
criativa, ou de Boden ou Langley (citados em Sternberg e Lubart,
1996) que abordam os pontos comuns entre a criatividade e a Inteligência
Artificial, ou de Johnson-Laird (1988) quando desenvolve um programa
de improvisação do Jazz descrito a partir dos princípios
tácitos deste estilo musical. Por seu turno, as perspectivas
unidisciplinares associadas à personalidade ou à psicologia
social colocam a tónica do estudo da criatividade nesses
contextos, sendo as figuras mais influentes Maslow (1968) que descreve
a coragem, a liberdade, a espontaneidade e a aceitação
de si próprio como traços que permitem que as pessoas
atinjam plenamente o seu potencial, do mesmo modo que Barron e Harrington
(1981) descreveram, como traços criativos quer de pessoas
eminentes quer de pessoas comuns, a independência, a autoconfiança,
a atracção pela complexidade, a orientação
estética e a assunção de riscos.
Porém, o olhar sobre a criatividade não se cinge exclusivamente
à psicologia. Autores como Wehner, Csikszentmihalyi e Maggary-Beck
(1991) vão para além da psicologia e abrem a compreensão
da criatividade a outros domínios, permitindo que as abordagens
da confluência como as de Amabile (1983), Gardner (1988),
ou Sternberg e Lubart (1991, 1996) ganhem relevância. As abordagens
da confluência salientam a multidimensionalidade da criatividade.
Se por um lado os processos cognitivos são importantes na
sua descrição, outros processos de ordem motivacional,
pessoal, emocional e contextual também devem ser tomados
em consideração. Nesta esteira, a teoria da confluência
de Amabile (1983) perspectiva a criatividade como uma integração
de factores múltiplos, como a motivação para
a tarefa, a capacidade e conhecimento relevante num domínio,
as competências que incluem um estilo cognitivo caracterizado
pela complexidade e não rigidez, o conhecimento de heurísticas
e um estilo de trabalho concentrado e enérgico.
Em suma, percebemos que ao longo do século XX foram avançadas
definições com preocupações diferentes:
a descrição de pessoas criativas geralmente a partir
da análise de biografias de pessoas eminentes; a procura
de uma definição que pretende descrever o desempenho
da população relativamente a uma avaliação
da criatividade; ou, por fim, uma perspectivação multifacetada
que considera os diversos factores envolvidos nas diferentes áreas
da actividade humana criativa. Independentemente da polémica
em torno da definição e da especificação
da criatividade, a maior parte dos autores assume, mesmo que implicitamente,
que a criatividade é uma característica essencial
da existência humana, não obstante as grandes expressões
criativas terem sido produzidas por um escasso número de
pessoas (Vygotsky, 1988). O que é preciso é dar oportunidade
a que esse potencial se expresse.
O que sabemos e ainda não sabemos sobre a criatividade
IDEIA: inovação e flexibilidade parecem ser elementos
da criatividade, embora o debate sobre esta reflicta as incertezas
da própria ciência psicológica.
Muitas são as perspectivas teóricas que explicam a
criatividade. As grandes revisões de literatura (Sternberg,
1988; Finke, Ward & Smith, 1992) abordam as questões
de fundo, as interpretações que as teorias revelam
sobre a criatividade e, acima de tudo, avançam com temas
comuns às diversas perspectivas.
Todos parecem concordar que a criatividade envolve a aplicação
de experiências ou ideias já existentes em novas formas
de olhar os fenómenos. A ideia de que o reconhecimento da
criatividade é um processo socialmente determinado também
parece ser um aspecto consensual (Amabile, 1983). Do mesmo modo,
os vários autores também concordam que a criatividade
envolve competências cognitivas como a flexibilidade, fluência,
imaginação, visualização, expressividade
e abertura, que tanto podem ser estilos ou características
da personalidade, como ou contextuais ou aprendidos. Por seu turno,
alguns modelos realçam o carácter de resolução
de problemas inerente à criatividade. O Modelo de Resolução
Criativa de Problemas de VanGundy (1987), baseado nos trabalhos
de Osborn (1953) e de Parnes (1967), propõe a presença
de cinco fases do processo criativo: descoberta de factos, descoberta
de problemas, descoberta de ideias, descoberta de soluções
e descoberta da aceitação. Este tipo de modelos acaba
por ser bastante consensual e esclarecedor, embora ainda haja vários
pontos de discórdia.
Já S. Tomás de Aquino, no século XIII, se referia
ao acto de criar como algo novo que podia ser realizado a partir
do nada ou a partir de algo que já existe. Este é
sem dúvida um dos pontos de concordância dos vários
modelos de reflexão sobre a criatividade – a inovação
– e simultaneamente um dos pontos de debate – a questão
da construção “mística” ou da reconstrução
“original” do saber. Historicamente falando, no denominado
período teocêntrico da criatividade, Deus é
sempre o primeiro responsável pela produção
criativa, se bem que pela mão de alguns eleitos, enquanto
que no período antropocêntrico, o Homem, e alguns homens,
de que Leonardo DaVinci é um expoente máximo, é
visto como dotado de uma série de aptidões capazes
de o assemelhar a um Deus Criador. Na cultura pós-moderna
surge a ideia de que afinal o Homem nada cria, pois tudo é
re- construído ou re-feito a partir da realidade pré-existente
(Kearney, 1988, cit. por Montuori & Purser, 1995). A par deste
debate, outros estão presentes no estudo da criatividade.
Tal como nas outras áreas que a Psicologia estuda, nomeadamente,
a inteligência e o processo de desenvolvimento humano, no
estudo da criatividade está patente uma certa concordância
relativamente à presença de algo comum aos vários
domínios do conhecimento. O debate incide sobre o grau de
concordância relativamente à generalidade do processo
criativo ou à especificidade do seu domínio de expressão.
Este é um reflexo de um dos grandes debates acerca do desenvolvimento
humano: a apologia da teoria de Piaget que descreve as estruturas
gerais do desenvolvimento versus a ideia de que o desenvolvimento
cognitivo ocorre em domínios específicos do desenvolvimento
(e.g. Kail, 1998). Este constitui igualmente um debate central na
concepção da inteligência, desde a defesa do
factor G de Spearman até ao recente conceito de inteligências
múltiplas de Gardner (1983).
Autores como Martindale (1989) defendem a criatividade como uma
aptidão geral, independente dos domínios onde surge,
talvez tendo como inspiração os grandes criadores
do Renascimento ou do Iluminismo que “brilhavam” tanto
nas ciências como nas artes. Contudo, o debate não
se cinge apenas à questão da criatividade ser ou não
ser geral, mas também, à sua expressão em múltiplos
domínios. Entre os representantes desta última perspectiva
encontram-se autores como Gardner (1983) e Vernon (1989) que avançou
com a taxonomia da criatividade artística, científica
e social. Gardner (1988), relutante face à utilização
dos testes tradicionais de inteligência, e adoptando um tipo
de avaliação mais contextualizada, enfatiza a ideia
de que a produção criativa num determinado domínio
está dependente essencialmente de um determinado tipo de
inteligência ou da combinação de várias
inteligências, e não da denominada inteligência
geral. Freud seria assim dotado de inteligência linguística,
lógico-matemática e intrapessoal.
Talvez pelas questões que ainda se colocam na operacionalização
da criatividade, algumas das teorias mais recentes procuram perspectivá-la
de uma forma mais integrada, procurando responder criativamente
a algumas dessas questões. Fundamentalmente, nos dois pólos
das questões levantadas sobre a criatividade talvez estejam
crenças diferentes sobre a vida e o mundo. Como refere Boornstin
(1992), enquanto que o objectivo Cristão é a “vida
eterna”, o objectivo do hindu é o retorno ao momento
anterior à criação, ou seja, à harmonia
perfeita a partir da qual o mundo teria sido criado por fragmentação.
As perspectivas mais clássicas têm no seu centro as
musas inspiradoras que iluminam num ápice o acto de produção
criativa em direcção à eternidade, adoptando
uma visão platónica, ao passo que as perspectivas
mais modernas acentuam a ideia da reestruturação,
onde nada se cria, mas tudo se transforma, como referia Lavoisier.
Na primeira posição situam-se os defensores do insight,
no sentido de um flash súbito associado a um golpe de sorte
que conduz ao progresso visto como desejável. Neste sentido,
a “sorte” já tinha sido inspiradora do mote de
Pasteur, quando referiu que esta favorece o “espírito
preparado”. Todavia, a ideia de Pasteur contém já
a essência da segunda posição, em que se situam
os teóricos que defendem que a criatividade é fruto
de uma procura intencional, organizada e sistemática para
encontrar pontes entre lacunas, planificando as estratégias
de resolução de problemas mais eficazes para reduzir
o caos, como os 99% de transpiração de Thomas Edison.
O modelo avançado por Sternberg e Lubart, em 1991, também
refere a confluência de diferentes factores na criatividade.
Desde as capacidades intelectuais, que podem ser a capacidade sintética
para ver os problemas de novas formas; para fugir aos constrangimentos
do pensamento convencional; à capacidade analítica
para reconhecer quais as ideias que devem/não devem ser seguidas;
ou à capacidade prática-contextual para persuadir
os outros do valor das ideias, até ao conhecimento, que implica
saber o suficiente sobre um campo, mas não demasiado para
impedir perspectivar os problemas de forma inovadora e aos estilos
de pensamento, que podem abranger o estilo legislativo, isto é,
a preferência para pensar de forma inovadora com base numa
escolha individual ou o estilo executivo ou o judicial, definido
como a capacidade de pensar globalmente e localmente, ou seja, distinguir
a floresta das árvores.
A par destes factores cognitivos, também confluem a personalidade,
nomeadamente a vontade de ultrapassar obstáculos, de assumir
riscos sensatos, de tolerar ambiguidades, bem como sentido de autoeficácia
e a apetência para desafiar multidões; e ainda a motivação
intrínseca orientada para a tarefa que determina a paixão
pelo trabalho e a concentração no trabalho e não
nas possíveis recompensas. O ambiente apoiante e recompensador
revela-se a par com os outros factores referidos determinante para
a produção criativa. A teoria do investimento na criatividade
de Sternberg e Lubart (idem) recorre a uma interessante imagem:
a da bolsa de valores. Ser criativo significa “comprar em
baixa”, ou seja, perseguir ideias desconhecidas ou fora de
moda, mas com potencial de desenvolvimento; e, como as ideias encontram
resistência mas o criativo persiste e consegue “vender
em alta”, seguindo para a próxima ideia nova ou impopular.
Na medida em que a questão da criatividade é indissociável
do contexto onde surge, as teorias implícitas inerentes a
esse contexto constituem uma outra forma de olhar a criatividade.
Como refere Sternberg (1985), as definições variam
de área para área. Assim, por exemplo, os professores
de arte privilegiam a imaginação e a originalidade
bem como a abundância e vontade de experimentar ideias novas,
enquanto que os professores de filosofia salientam a capacidade
de jogar imaginativamente com noções e combinações
de ideias e de criar classificações e sistematizações
do conhecimento que desafiam as convencionais.
Por seu turno, os professores de física acentuam a invenção,
capacidade para encontrar ordem no caos e a questionação
dos princípios básicos. Os professores de gestão
realçam a capacidade para encontrar e explorar novas ideias
vendáveis.
Em termos gerais, os quadros de referência teóricos
colocam ênfase no processo criativo propriamente dito, procurando
uma resposta à questão “o que é a criatividade?”.
Todavia, nas últimas duas décadas, uma nova ênfase
surgiu no sistema de redes sociais que apoiam a criatividade, procurando
explicar o contexto “onde” esta ocorre, o que faz um
produto ser criativo e a sua função na sociedade.
Daí a mudança de uma visão ptolomaica para
uma visão coperniciana da criatividade, em que o sujeito
não mais se encontra no centro de tudo, sendo a sua criatividade
o resultado de múltiplas influências (Csikszentmihalyi,
1988).
É interessante salientar que esta mudança de ênfase
no estudo da criatividade ocorre décadas depois do impacto
de dadaístas como Duchamp não só no domínio
das artes, como na própria sociedade e anos depois do auge
de movimentos artísticos como a Popart ou a arte conceptual,
reflexo da atitude inovadora para com o conceito de arte por parte
do grupo Dada.
Tendo como pano de fundo esta mudança de paradigma, Csikszentmihalyi
desenvolveu a teoria do fluxo da criatividade. Depois de se ter
apercebido que a grande questão da criatividade não
era tanto a de procurar saber o que é, mas antes onde está,
Csikszentmihalyi (1990) analisou as respostas de pessoas que se
envolviam activamente em actividades variadas, desde a leitura até
à escalada ou ao xadrez, à questão “Como
se sente quando faz aquilo de que mais gosta?”. Verificou
que a resposta mais frequente era: “Descobrir; pensar em algo
novo”, concluindo que as pessoas mais criativas são
motivadas pelo prazer retirado do confronto com as dificuldades
que conduz a novas formas de ser e de agir.
É essa procura da novidade e do desafio que é essencial
à evolução da cultura e ao progresso do pensamento
e do sentimento. A qualidade da experiência sentida no envolvimento
numa actividade parecia ser o motivo que leva determinadas pessoas
a desfrutarem das coisas que fazem sem ser por dinheiro ou fama.
O prazer da descoberta referido pelos sujeitos de Csikzentmihalyi,
oriundos de actividades profissionais ou amadoras tão variadas
como jogadores de xadrez, bailarinos, compositores, atletas, artistas,
místicos religiosos, cientistas, cirurgiões, trabalhadores
vulgares, parecia constituir uma sensação única
diferente do lazer, do efeito de drogas ou álcool, do consumo
de bens de luxo. Como base comum, o autor avança com o conceito
de fluir (Csikszentmihalyi, 1990). Fluir de uma novidade, de uma
descoberta, sem esforço, num estado quase automático,
que surge como uma descrição independente da cultura,
do género sexual, da idade (Csikszentmihalyi, 1996).
Os vários passos do fluxo criativo incluem:
1. Estabelecimento de metas claras a cada passo do caminho (“saber
o que se há-de fazer”);
2. Uma resposta imediata para cada acção (“saber
o que se está a fazer”);
3. Um equilíbrio entre dificuldades e capacidades (“sentir
que as capacidades correspondem às possibilidades das acções”),
ou seja, adequar o potencial às oportunidades;
4. Uma fusão entre a actividade e consciência (“mente
em sintonia com o que se está a fazer”, ou seja, “concentração
polarizada no que se faz!”; a exclusão das distracções
(“fazer a 100%” ou “em cada segundo, consciência
daquilo que se faz” ou ainda “concentração
intensa no presente que alivia os medos quotidianos”);
5. Uma negação do medo do fracasso, ou melhor, a questão
do controlo nem se coloca porque é claro o que se tem de
fazer e que as capacidades estão potencialmente adequadas
às dificuldades;
6. A particularidade da consciência de si desaparecer, pela
absorção no que se está a fazer e por isso
não há necessidade de proteger o ego (“sair
dos limites do eu e integrar momentaneamente uma realidade maior”)
o que conduz a uma paradoxo: o “eu” dilata-se quando
se esquece de si;
7. Um sentido distorcido do tempo (“as horas parecem escassos
minutos” ou segundo uma patinadora do gelo “um segundo
prolonga-se 10 vezes”);
8. A constatação do relógio não marcar
o tempo e, por fim,
9. A noção de que a actividade se converte em algo
autotélico.
A propósito do conceito grego de autotélico, que
significa um fim em si mesmo, Csikszentmihalyi (ibidem) sugere que
o fluir leva à transformação das actividades
exotélicas em autotélicas, adoptando uma ideia semelhante
ao movimento artístico que se seguiu ao o impressionismo:
“a arte pela arte”.
Em suma, são muitas as questões de fundo que necessitam
de ser esclarecidas de forma a podermos integrar verdadeiramente
a criatividade no rol de finalidades educacionais. Porém,
os avanços no conhecimento do que é a criatividade,
como se avalia e como se pode promover no contexto educacional,
permitem-nos reflectir sobre ela de uma forma mais segura, confiante
e consequentemente justa.
Na panóplia de teorias que temos ao nosso dispor para explicar
o que é a criatividade e porque vale a pena investir em termos
educacionais na sua promoção, é importante
ter a noção de que a opção por um enquadramento
teórico de suporte constitui o eixo central de qualquer teorização
da criatividade (Nogueira & Bahia, no prelo).
Da teoria à prática
IDEIA: Depois de se avaliar, é importante procurar intervir
de uma forma multifacetada.
Uma prática sem fundamento teórico vale pouco. Uma
teoria sem aplicação prática também
de pouco vale. O quadro teórico sobre o que é e onde
se expressa a criatividade, não obstante pintar apenas parte
do quadro, proporciona algumas pistas válidas para a sua
prática. Basicamente, importa conhecer aquilo que se quer
estimular, para que de facto se possa desenvolver plenamente, sem
constrangimentos.
Assim, devemos estar conscientes de que a criatividade tem muitos
ângulos de abordagem e que os autores acabam por adoptar uma
perspectiva própria de investigação e de actuação.
Em traços gerais, Simonton (1988) resume as diversas abordagens
da criatividade em quatro “P”: P de pessoa/personalidade,
P de produto, P de processo e P de persuasão. Esta distinção,
que aliás já remonta a 1963, por intermédio
de Ross Mooney (cit. por Taylor, 1988), ajuda-nos a uma sistematização
das múltiplas formas de investigação e de intervenção
no domínio da criatividade.
O “P” de personalidade incide na análise das
características de personalidade que poderão andar
associadas aos criativos, o que teria a vantagem de podermos identificar,
por intermédio de testes de personalidade, os sujeitos potencialmente
criativos, para além de podermos trabalhar e incrementar
essas características em todos os sujeitos e de podermos
aprender sobre as práticas educativas que se teriam revelado
mais eficazes na maximização dessas características
(Weisberg, 1986). Um dos estudos mais referidos na literatura é
o estudo longitudinal de Getzels e Csikszentmihalyi (1976) que evidencia
as características específicas dos estudantes de arte,
quer em termos de personalidade, quer em termos de valores partilhados.
Em traços gerais, podem ser considerados mais reservados
em termos sociais, mais introspectivos, inconformistas, com baixos
níveis de autoconceito, mas extremamente imaginativos, auto-suficientes
e com paixão pelas novas experiências. A nível
dos valores mais relevantes, estes sujeitos caracterizam-se pelos
valores estéticos (a procura de um sentido através
da arte), e pela rejeição dos valores económicos
e sociais.
Numa revisão recente, Cortizas (2000) refere que os criativos
possuem uma curiosidade intelectual e uma inteligência acima
da média; discriminam e observam de forma diferenciada; concentram-se
e estão atentos sem dificuldade; extrapolam e transferem
conhecimentos de uma área para outra e apresentam-nos como
inovadores; apresentam uma maior tolerância relativamente
ao que os rodeia; gostam de fazer julgamentos independentes; e,
são, também, flexíveis em relação
aos meios e objectivos.
O “P” de produto valoriza a análise dos produtos
criativos, sejam eles artísticos, científicos, tecnológicos,
ou outros, e obriga a que os mesmos se submetam a uma série
de critérios que permitam ajuizar sobre a sua originalidade
e pertinência. Para Amabile (1983) impõe-se o recurso
a uma série de juízes que, entre outras exigências,
deverão ter experiência no domínio considerado,
fazer a sua avaliação de forma independente mas tendo
em vista um mesmo critério que define a resposta criativa
e estabelecer comparações com os trabalhos mais importantes
produzidos na área. Sem dúvida que uma das questões
mais pertinentes e que discussões mais acesas tem gerado,
é a de saber definir originalidade, considerada a dimensão
mais importante a ter em conta na avaliação dos produtos
criativos (Besemer & Treffinger, 1981, cit. por Morais, 2001).
Se a utilidade do critério originalidade é inegável,
nem por isso temos a resposta para a questão de quem devemos
ter em conta quando se fala em originalidade: apenas o próprio,
o grupo de especialistas ou até mesmo a comunidade ou mundo
em geral? Por outro lado, se o critério da infrequência
estatística se assumir como imprescindível, será
que é condição suficiente (Perkins, 1981).
Será que não deveremos apelar a outros critérios
como os da resolução e da elaboração
do produto?
O “P” de processo leva-nos à reflexão
sobre a distinção, por nós já feita,
entre a criatividade quotidiana, com c pequeno e a grande ou alta
Criatividade, com C grande, ou seja, leva-nos ao questionamento
sobre o que é a criatividade dos sujeitos mais jovens, onde
poderemos encontrar formas de pensamento divergente, mas raramente
produtos criativos e verdadeiramente originais, no sentido mais
exigente do termo, e sobre o que é a criatividade adulta
onde mais facilmente encontramos os produtos aceites como criativos
e resultantes de um longo trabalho e investimento. Questionamento
ainda sobre a forma como se processa a passagem de um tipo de criatividade
para o outro. Sem dúvida que uma das grandes questões
teóricas com que o domínio da criatividade se tem
debatido é a de saber se as características de pensamento
divergente encontradas em sujeitos mais jovens podem ajudar a predizer
os desempenhos criativos na idade adulta, o que analisaremos um
pouco mais adiante.
O “P” de persuasão, pois o hic e nunc em que
os sujeitos se encontram são determinantes da aceitação
e reconhecimento do seu trabalho, pois neste sentido a criatividade
é um fenómeno interpessoal e social.
Segundo alguns autores (Taylor, 1988), os índices mais fiáveis
de criatividade seriam a criatividade enquanto processo e a criatividade
enquanto produto. As características de personalidade seriam
um bom preditor da criatividade e o contexto sócio-cultural
e de conhecimentos desempenharia o duplo papel da base a partir
da qual o produto poderia ser elaborado e na qual seria avaliado
e possivelmente aceite.
Em suma, a primeira grande questão da intervenção
educacional passa pela avaliação da criatividade.
O que se mede, como, porquê, para quê, são perguntas
prévias a uma decisão interventiva. Para grande parte
dos que teorizam sobre a criatividade, a novidade e a originalidade
são elementos indissociáveis desse conceito, embora
também sejam elementos que se opõem ao rigor que se
pretende dar ao estudo dos fenómenos psicológicos.
A questão da avaliação da criatividade
IDEIA: É imprescindível avaliar tendo como base um
quadro teórico para depois intervir.
A criatividade é algo que, à priori e por natureza,
escapa a uma medida exacta. Porém, Guilford, na comunicação
que fez na American Psychological Association, em 1950, motivou
uma nova perspectiva sobre a criatividade e sobre a sua avaliação.
Face à limitação de investigações
sobre a criatividade pela raridade de pessoas eminentes, Guilford
propôs o estudo da criatividade em pessoas de todos os dias
utilizando testes de papel e lápis. Estava lançado
o repto quando exemplificou a sua ideia com o Teste dos Usos Invulgares.
Era pedido aos sujeitos que pensassem e descrevessem tantos usos
quanto possível para um objecto vulgar (e.g. tijolo). Era
uma tarefa que podia avaliar uma importante dimensão da criatividade,
a do pensamento divergente e constituía uma forma conveniente
de comparar pessoas numa escala de “criatividade” padronizada.
Por isso, em 1974, Torrance avançou com uma Bateria de Testes
de Pensamento Criativo (TTCT). Esta consiste em tarefas verbais
e figurativas relativamente simples que envolvem competências
de pensamento divergente e outras de resolução de
problema. Os elementos de cotação têm em conta
a fluência, ou seja, o número total de respostas relevantes;
a flexibilidade, indicada pelo número de diferentes categorias
de respostas; a originalidade, isto é, um critério
de raridade estatística, e, ainda, a elaboração,
ou seja, a quantidade de detalhe na resposta. A bateria inclui subtestes
de: (a) formulação de perguntas, como seja escrever
todas as perguntas que lhe ocorre com base numa cena desenhada;
(b) melhoramento de um produto, por exemplo, listar os modos como
se pode melhorar um brinquedo de forma a que as crianças
se possam divertir mais quando brincam com ele; (c) usos invulgares,
como listar os usos interessantes e invulgares de uma caixa de cartão
e (d) linhas paralelas (na versão A) ou círculos (na
versão B), como por exemplo, transformar círculos
vários em diferentes desenhos e dar-lhes um título.
Em Portugal surge, há pouco mais de uma década, a
Bateria de Provas de Raciocínio Diferencial, de Ribeiro e
Almeida (1992), de que fazem parte as provas de pensamento divergente:
numérico, espacial, verbal e figurativo-abstracto, cada uma
delas composta por duas actividades. Nas Provas de Pensamento Divergente
Numérico e de Pensamento Divergente Espacial, os sujeitos
devem elaborar uma determinada resposta com base nos elementos (números
ou figuras) fornecidos; nas provas de Pensamento Divergente Verbal
e de Pensamento Divergente Figurativo-Abstracto, são fornecidos
algumas letras ou traços, a partir dos quais os sujeitos
devem produzir frases ou desenhos. As instruções pedem
explicitamente aos sujeitos que eles tentem dar o maior número
de respostas e o mais diversificadas possível.
Mais recentemente, Morais (2001) apresenta-nos um estudo centrado
na relação entre as variáveis cognitivas e
o desempenho criativo em alunos universitários, socorrendo-se
de provas de avaliação criativa, mais especificamente
sobre a capacidade de insight, a capacidade de descoberta de problemas
e o pensamento metafórico. A capacidade de insight foi avaliada
a partir de 10 problemas verbais (oriundos de autores como, por
exemplo, Sternberg, Weisberg ou Gardner) e para os quais era dado
o limite temporal de 45 minutos. Exemplificando, um dos problemas
apresenta-se da seguinte forma: “Um jovem não trazia
a sua carta de condução com ele. Um polícia,
na sua ronda, viu-o passar um sinal vermelho, ignorar um stop e
descer alguns metros contra mão numa rua de sentido único.
Contudo, e apesar de não ter sido negligente, o polícia
não fez qualquer esforço para o deter ou multar. Porquê?”.
A capacidade de descoberta de problemas avalia-se por intermédio
de quatro provas, baseadas em estudos experimentais prévios
e numa reflexão sobre o próprio conceito. Os problemas
apresentados são os seguintes: “Que problemas poderão
ter os motoristas de automóvel nos próximos 20 anos?”,
“que questões colocaria a um indivíduo que começou
a ver apenas aos 20 anos de idade?”, “e se os homens
pudessem engravidar?”. Os itens que visam a avaliação
da capacidade de pensamento metafórico, basearam-se na teoria
de Tourangeau e Sternberg (1981, 1982, cit. por Morais, 2001) e
assumem a forma de x é o Y de Z. Temos, por exemplo, o seguinte
caso: “O camelo é… (opções: o vitral,
o burro, o barco, o armazém, o rato) do deserto”.
No seu modelo da “Geneploração”, Finke,
Ward e Smith (1992) descrevem as fases do processamento do pensamento
criativo: (1) a Generativa – construção de representações
mentais, ou seja, as estruturas “pré-inventivas”
com propriedades que promovem descobertas criativas; e (2) a Exploratória
– utilização das propriedades estruturais para
avançar com ideias criativas.
Os processos mentais envolvidos na criatividade, referidos pelos
autores, incluem a recuperação; a associação;
a síntese; a transformação; a transferência
analógica e, ainda, a redução de categorias,
o que implica reduzir mentalmente os elementos a descrições
de categorias mais primárias. A partir deste quadro de referência
teórico, propõe-se um teste experimental que consiste,
em primeiro lugar em observar partes de objectos (e.g. círculo,
cubo, paralelogramo, cilindro) para, em seguida, se nomearem três
partes e imaginar uma combinação de partes para produzir
um objecto prático (e.g. participantes podem imaginar uma
ferramenta, uma arma, uma peça de mobiliário). Vários
juízes atribuem uma cotação em termos de: originalidade,
qualidade do uso ou a possibilidade prática.
Estes dois exemplos pioneiros na avaliação da criatividade
ainda hoje em dia são utilizados e ilustram alguns dos cuidados
necessários em todo o processo de avaliação
da criatividade.
Se por um lado as abordagens psicométricas deste tipo trouxeram
aspectos positivos na evolução do conceito de criatividade
e na sua avaliação na medida em que facilitaram a
investigação e possibilitaram a investigação
com pessoas do “dia-a-dia” (não eminentes), apresentam,
por outro lado, uma série de aspectos negativos. Basicamente,
os testes de papel e lápis breves são medidas triviais,
e que falham na avaliação das questões do contexto.
De forma a colmatar esta limitação, os portefólios
devem ser elementos a associar a uma avaliação sistematizada
e padronizada da criatividade.
Por outro lado, o conceito de criatividade fica reduzido aos resultados
de fluência, flexibilidade, originalidade e elaboração.
Daí a importância da inclusão de juízes
no processo de cotação. Um outro aspecto crítico
prende-se com o pressuposto de que as amostras de pessoas não
eminentes possam elucidar os níveis eminentes de criatividade,
deixando mais uma vez transparecer o debate em torno da diferença
entre a alta criatividade e a criatividade do dia-a-dia e a questão
do uso do mesmo termo – criatividade – para descrever
ambos os níveis, já que a criatividade quotidiana,
com “c” minúsculo implica aprender, explorar,
ultrapassar barreiras, gerar ideias, rejeitar, resolver, identificar,
julgar, receber informação, experimentar, reexperimentar,
enquanto que a alta criatividade, com “C” maiúsculo
depende da área, em termos de empreendimento, que estabelece
as regras; do produto do trabalho para além das regras; dos
juízes que são pessoas que conhecem as regras da área
e que apreciam e julgam a sua novidade e valor (Csikszentmihalyi,
1990).
De facto, uma das mais sérias críticas dirigidas aos
testes de pensamento divergente centra-se na questão da sua
validade preditiva. Torrance (1988), baseado em dois estudos longitudinais
(um com estudantes universitários e outro com sujeitos do
1º e 2º ano de escolaridade), conclui que os resultados
obtidos nos testes de pensamento divergente previam com alguma segurança
o desempenho criativo na vida adulta, através, por exemplo,
de invenções, prémios, composições
musicais.
Da revisão de estudos efectuada por Barron e Harrington (1981),
nem sempre resultou a desejável correlação
entre os resultados dos testes de pensamento divergente e o comportamento
criativo, muito provavelmente porque as capacidades de pensamento
divergente avaliadas nem sempre poderem vir a ser as mais pertinentes
para o desempenho criativo em qualquer um dos domínios considerados.
Assim, faria sentido, segundo os autores, que alguns testes de pensamento
criativo – de criatividade musical – baseados em estímulos
de uma dada natureza (por exemplo, a musical), pudessem vir a correlacionar-se
com o desempenho criativo futuro, desde que relativo a uma determinada
área (neste caso, a musical).
Se os testes de pensamento divergente ainda não conseguem
medir a criatividade naquilo que ela tem de mais essencial, nem
conseguem ajuizar com toda a certeza quais os sujeitos que poderão
vir a aparecer com soluções novas para os problemas
do quotidiano, nem por isso devemos desprezar o facto de, apesar
de tudo, os testes de pensamento divergente conseguirem prever,
com maior grau de probabilidade, o comportamento criativo futuro
(Torrance & Torrance, 1974).
Um modo eficaz de olhar a avaliação da criatividade
consiste em integrar na avaliação os vários
factores envolvidos na criatividade e os diversos domínios
do conhecimento onde esta se pode expressar. Sternberg e Lubart
(1991) avançaram com uma proposta de avaliação
da Criatividade geral; da Novidade; da Adequação ao
tópico; do Valor estético; da Integração
de elementos díspares; do Esforço percepcionado. Embora
este tipo de avaliação tenha sido aplicado à
população adulta (entre os 18 e os 65 anos), a sua
aplicação aos mais jovens parece ser igualmente frutífera.
Os quatro domínios avaliados foram (1) a escrita, que incluía
itens que implicavam produção escrita de pequenas
histórias com títulos como “para além
do limiar” ou “os sapatos do polvo”, (2) o domínio
artístico, como a produção de desenhos para
temas como “raiva”, “esperança” ou
“a Terra vista por um insecto”; (3) a publicidade, exemplificada
com tópicos para um anúncio de TV como “Couves
de Bruxelas” ou “Serviço Interno de Receitas”;
e, ainda, (4) a ciência que incluía tópicos
para produções científicas como “Como
poderia detectar extraterrestres entre nós?” ou “Como
poderia afirmar que alguém esteve na lua no último
mês?”. Como complemento ainda de uma avaliação
da criatividade, autores como Tourangeau e Sternberg (1981) sugerem
a relevância do pensamento metafórico para determinar
o nível de criatividade de uma analogia.
No entanto, como refere Gagné (1993, 2000), os testes de
criatividade devem ter em conta a fluência, flexibilidade,
originalidade, elaboração/ expressas através
de palavras e de imagens e devem estar associados a tarefas de resolução
de problemas de modo a verificar os passos utilizados, bem como
os processos de codificação e de resolução.
No entanto, cremos que qualquer opção que se utilizar
deverá ter como base um enquadramento teórico de suporte,
permitindo uma compreensão plena dos resultados. Neste sentido,
é necessário ter ideias concretas sobre o que é
de facto a criatividade e sobre as formas através das quais
ela se pode expressar.
A razão pela qual se avalia a criatividade não se
resume à identificação dos criativos, porque,
por si só, uma avaliação da criatividade não
basta. É necessário incluir não só outro
tipo de avaliação das funções cognitivas,
mas também incluir a autoavaliação (se bem
que esta possa não ser totalmente honesta e isenta), bem
como a avaliação feita pelos pares, pais, professores,
que deverão especificar adjectivos descritivos dos sujeitos
da avaliação, assim como observações,
produtos, testes de personalidade, esboços biográficos,
para além de testes de aptidões e capacidades e a
procura e resolução de problemas.
No entanto, há que ter consciência que, em termos gerais,
a garantia de muitas medidas da criatividade pode ser insuficiente
e a sua validade questionável. Neste sentido, a avaliação
autêntica através, por exemplo, dos portefólios
pode ser um complemento útil.
Avaliar a criatividade é, acima de tudo, uma forma de despistar,
identificar, fortalecer e avaliar aspectos importantes e, ainda,
de verificar o potencial do sujeito em questão, apoiando
os seus pontos fortes e diagnosticando as necessidades tendo como
objectivo último a avaliação dos esforços
para aumentar a criatividade e a utilização de uma
linguagem comum sobre criativos que permita retirar a aura de mistério
e os mitos em torno deste processo.
Intervir no desenvolvimento pleno da criatividade
IDEIA: Ser criativo no modo de abordar a busca do conhecimento.
Como em qualquer outro domínio das teorias psicológicas,
a descrição e avaliação de um processo
só faz sentido se auxiliar a sua interpretação
e procurar uma intervenção subsequente. Mas, pensar
numa intervenção num contexto de sala de aula ao nível
da criatividade implica fundamentalmente intervir na atitude que
se tem face ao conhecimento. Vivemos numa sociedade em que se olha
o conhecimento como algo que se possui (Donaldson, 1992). Como refere
Marín (1977, cit. por Prado-Diez, 1999), o princípio
que impulsiona as várias perspectivas da educação
contemporânea reside na criatividade: a sensibilidade intuitiva
e estética, o jogo divertido e infinito, a identidade pessoal,
a comunicação e a socialização, a motivação
e a autonomia.
Nesta esteira, e na medida em que a criatividade é o potencial
mais poderoso na geração de algo novo, que é
uma característica da essência humana, que é
originária e originadora de possibilidades alternativas e
originais, que é uma construção e reconstrução
de um dado, numa combinatória nova proporcionando uma visão
diferente e oferecendo uma comunicação diferente e
pessoal do real, que é um apelo à experimentação
e ao ensaio, ao jogo renovador, tendo em vista a invenção,
que é a inovação e a mudança do que
está instituído e do hábito fixo, que é
uma metodologia operativa aberta e o encontro de um estilo pessoal,
e que é um caminho sem um percurso preestabelecido, Prado-Diez
(1999), no desenvolvimento do seu projecto Educrea sugere pistas
construtivas, cooperativas e significativas de ensinar e aprender
de forma divertida, ágil e satisfatória.
Os princípios básicos que fomentam o ensino da criatividade
em contexto da sala de aula são, segundo o autor:
1. Aprender o sentido aberto, livre, lúdico e inovador do
pensamento e imaginação, comunicação
e decisão criativas, o que implica o reconhecimento de que
não existem respostas preestabelecidas;
2. Não utilizar uma avaliação convergente com
critérios tradicionais de avaliação, o que
implica a presença de uma avaliação criativa
que valorize a força expressiva e a originalidade;
3. Ter como base os princípios da educação
construtiva, cooperativa e significativa;
4. Adoptar o mote “O que se crê, comunica-se”,
o que conduz à exposição de todos os trabalhos
e, obviamente, à construção de portfolios;
5. A expressão criativa é interdisciplinar, recorrendo
a conhecimentos de diversos domínios;
6. Criar é repetir variando, em diferentes momentos, procurando
algo original e comparando as diversas produções;
7. A chave da expressão e da obra criativa é a estimulação
do pensamento alternativo, imaginativo e inventivo, através
do uso de técnicas de analogia, invenção, fantasia,
entre outras formas de pensamento criativo;
8. A tónica não deve ser colocada exclusivamente na
correcção porque a prática sistemática
e variada facilita a retenção e a correcção
espontânea;
9. A procura de procedimentos inéditos conduz a novas metas
e a espaços desconhecidos;
10. A aplicação e combinação de um grande
número de métodos e de linguagens criativas para cada
tema, assunto ou problema, abrem horizontes.
11. Estas pistas sugestivas são, contudo, abstractas. No
entanto, esclarecem a atitude geral a assumir e proporcionam ideias
sobre a sua possibilidade de aplicação.
Woolfolk (1998) sugere algumas condições mais específicas
para a criatividade que podem ser aplicadas num contexto educacional:
1. Aceitar e encorajar outras maneiras de olhar a questão
ou o problema, reforçando tentativas de soluções
invulgares;
2. Tolerar a dissenção, incentivando o não
conformismo, apoiando opiniões diferentes;
3. Encorajar os jovens a confiarem nos seus julgamentos;
4. Transparecer a ideia de que quem cria não é um
super-herói, salientando que criar está ao alcance
de qualquer pessoa;
5. Agir como um estímulo para o pensamento criativo, modelando
a resolução criativa de problemas e encorajando o
jovem a adiar a solução final até que todas
as possibilidades sejam encontradas.
Poderíamos afirmar, face a estes dois exemplos de estratégias
de sala de aula que estimulam a criatividade dos estudantes, que
quem pretende estimular a criatividade tem de ser multifacetado
e procurar abordar a sua tarefa de forma criativa. Isto porque,
como referem Sternberg e Lubart (1991) criatividade não brota
de uma competência ou traço ou capacidade única.
É um processo multifacetado, que não se reduz às
variáveis cognitivas nela envolvidas ou à combinação
destas com variáveis afectivas ou conotativas: Tem de ser
sempre olhada em conjunção com o contexto ambiental
por ser um produto interactivo (e não cumulativo) entre seis
fontes distintas – processos intelectuais, conhecimento, estilo
intelectual, personalidade, motivação e meio envolvente.
Adoptando este modelo do investimento na criatividade de Sternberg
e Lubart (1991) como base, facilmente compreendemos que o desenvolvimento
da criatividade passa por seis pontos fundamentais:
Relativamente aos Processos Intelectuais
1. Fomentar a escolha e estruturação autónoma
de problemas, não apostando unicamente na resolução
de problemas bem delineados com uma única solução
e com uma metodologia rígida. (Esta sugestão já
foi condensada no conceito de aprendizagem pela descoberta de Bruner
(1960, 1966) e constitui um conceito recente avançado por
Sternberg e outros teóricos (2000) – o conceito de
inteligência prática que se opõe ao conceito
de inteligência académica).
Relativamente ao Conhecimento
2. Na base de conhecimentos proporcionados pela escola, os factos
devem ser interligados. A quantidade de conhecimento aprendido não
deve ser a tónica, mas antes a sua aplicação
prática.
Relativamente aos Estilos Intelectuais
3. O respeito e a valorização de estilos cognitivos
e de aprendizagem diferentes propiciam a auto-regulação
da aprendizagem e, consequentemente, a autonomia pelo que as tarefas
devem ser variadas e diferenciadas, apelando para os diferentes
estilos.
Relativamente à Personalidade
4. As tarefas muito estruturadas são um obstáculo
à superação criativa de obstáculos e
à aprendizagem do que significa arriscar, pelo que as tarefas
devem ser flexíveis e o respeito pela personalidade de cada
estudante valorizado.
Relativamente à Motivação
5. O prazer em descobrir deve estar presente em todas as tarefas
propostas. Por outro lado, como referem Amabile, Henessy e Grossman
(1986) e Pearlman (1984) os prémios e a centração
nas notas diminuem a criatividade e a opção dos estudantes
por problemas intelectualmente desafiantes.
Relativamente ao Contexto Ambiental
6. Respeitar a individualidade, encorajar a sua independência
e funcionar como um modelo criativo são as três características
que fomentam a criatividade dos estudantes (Chambers, 1973, cit.
por Sternberg e Lubart, 1991).
Uma imagem que pode reflectir o que é a criatividade está
representada na pintura da Biblioteca de Vieira da Silva, criação
que remonta a 1949. Os seus diferentes níveis, rampas, patamares
e escadas que dão acesso aos livros do conhecimento ilustram
a questão da interrelação dos conhecimentos
e a procura de soluções criativas (Bahia, 2002a, 2002b;
Nogueira & Bahia, no prelo) e o que move a procura do conhecimento
é a ideia aristotélica de entelhequeia, ou seja, a
força vital que orienta o próprio desenvolvimento
(Bahia, 2002a). Consequentemente, a valorização da
autonomia, do pensamento e do julgamento independente deve ser a
grande proposta educativa que permite que quem gosta de aprender
e descobrir o conhecimento pelo conhecimento, consiga inovar, criar
novas imagens, interpretações e associações.
De forma a não fechar as portas da criatividade. Desafiar,
aguçar a curiosidade, formular e inventar questões,
questionar o conhecimento ou mesmo o professor ou o manual, relativizar,
compreender que não há respostas para tudo, improvisar,
são palavras de ordem que presidem a uma procura da estimulação
da criatividade dos estudantes.
Isto por parte do Educador que deixa transparecer o seu prazer em
mostrar as coisas que conhece, o seu entusiasmo pela descoberta,
a sua percepção de que o conhecimento não é
linear e simples, bem como o seu conhecimento dos aspectos estéticos
do próprio conhecimento. Talvez parte da resposta à
questão relembrada por Rafael (Capítulo 8) e formulada
por Gagné: quando é que conseguiremos educar criadores
como Leonardo da Vinci ou Einstein? Talvez nunca, mas pelo menos
não lhes cortaremos tanto as asas.
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