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RACISMO E EDUCAÇÃO – o debate necessário
Rosalia Estelita Diogo
Professora da E.M. Padre Guilherme Peters, membro do Conselho Municipal
de Educação e do Grupo de Educadoras(es) Negras(os)
da Fundação Centro de Referência da Cultura
Negra. Belo Horizonte - Brasil
rosalia.estelitadiogo@ig.com.br
Na minha opinião, a idéia central é a seguinte:
o racismo participa de alguma coisa muito mais universal do que
aceitamos admitir habitualmente: o racismo é uma transformação
ou um descendente especialmente violento e exacerbado (arrisco-me
até mesmo a dizer: uma especificação monstruosa)
de uma característica empiricamente quase universal das sociedades
humanas. Trata-se, em primeiro lugar, da aparente incapacidade de
excluir o outro sem desvalorizá-lo, chegando finalmente,
a odiá-lo.
Cornelius Castoriadis
É uma data bastante significativa: 21 de Março –
Dia Internacional de Luta contra a Discriminação Racial.
São muitos os caminhos que temos que percorrer para que o
racismo não leve à impossibilidade de relações
fraternas entre as pessoas. E nós, educadoras(as) temos um
papel fundamental nas nossas ações cotidianas para
coibir as manifestações racistas e machistas no ambiente
escolar.
Em setembro de 2001, ocorreu em Durban, África do Sul, a
III conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação
Racial, a Xenofobia e Intolerância Correlata. O desdobramento
mais significativo desta Conferência, talvez seja a “Política
de Ações Afirmativas”, que tem o aspecto das
cotas na universidade como a estratégia de ação
mais polêmica. O governo brasileiro é signatário
dessa Conferência, cuja Declaração e Plano de
Ação “reconhecem a escravidão e o tráfico
transatlântico de escravos como crime contra a humanidade”.
Vale ressaltar que a ONU ratificou esta declaração.
Em janeiro de 2003, o governo eleito por força dos movimentos
populares e dos movimentos negras(os), criou a Lei 10639/03, que
trata da obrigatoriedade do ensino sobre a História e Cultura
Afro-Brasileira nas escolas de educação básica.
Trata-se, sem dúvidas do reconhecimento do racismo que paralisa
o desenvolvimento econômico e social da comunidade negra no
Brasil. Mas para além da existência da Lei, as nossas
ações devem se dar no sentido de esclarecer, incentivar
e unificar esforços, no sentido de criar estratégias
locais e universais para combater o racismo nas nossas escolas e
na sociedade. Um dos aspectos fundamentais é cobrar do poder
público, em todos os âmbitos, as condições
materiais e funcionais para trabalharmos inclusive com a auto-estima
de educadoras(es) e alunas(os) negras(os).
É crucial que trabalhemos sempre na perspectiva de que as
mulheres negras são as maiores vítimas quando se fala
em desvantagem social no Brasil . Não é inócuo,
portanto, pensarmos na desvalorização que se aplica
para nós educadoras negras, quando se tem no imaginário
que o magistério é uma extensão das atividades
domésticas. Portanto, a nós, educadoras(es) negras(os)
e não negras(os) temos um desafio muito grande no que se
refere à possibilidades reais de transformações
na sociedade brasileira.
Rosália Diogo
1- As mulheres negras formam o grupo mais discriminado quanto
aos salários pagos no mercado de trabalho brasileiro. Com
um hipotético fim da discriminação salarial,
elas teriam ganhos de até 55%, chegando ao nível de
rendimentos recebidos pelos homens brancos com a mesma idade e nível
de escolaridade (Jornal Valor Econômico – 13.12.2000
(A12)
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