Filosofia:
da menoridade à maioridade
Flávio Netto Fonseca
Professor de Filosofia nos Colégios Padre Machado e Magnum e na UFMG em Belo
Horizonte - MG
E-mail: flnetto@hotmail.com
Uma
das razões dos estudos de Filosofia no Ensino Fundamental e Médio é a de
possibilitar aos alunos o entendimento do mundo em que vivem. A maioria dos filósofos
procurou, em suas obras, refletir sobre as suas épocas, alguns descrevendo-as
outros criticando-as.
Disse
André Comte-Sponville, filósofo francês, "Toda filosofia é um combate.
Sua arma? A razão. Seus inimigos? A tolice, o fanatismo, o obscurantismo. Seus
aliados? As ciências. Seu objeto? O todo, com o homem dentro. Ou o homem, mas
no todo. Sua finalidade? A sabedoria: a felicidade, mas na verdade."
Uma
das tarefas do professor e mais especificamente do professor de Filosofia é
fazer com que os alunos se habilitem a analisar o mundo em que vivem, ou seja, a
fazerem uma crítica sistemática e racional de todas as informações que
recebem diariamente a fim de que encontrem as verdades que os levarão à
felicidade. Além do "espírito geométrico", tão necessário às ciências,
a fruição do "belo" contido nas belas músicas, nos belos textos,
nas belas poesias, nas belas artes, é necessária para se adquirir, como disse
o filósofo Pascal, "o espírito de finesse", que significa o
aprimoramento da sensibilidade, não só pelos sentidos, mas principalmente pela
reflexão racional que consiga perceber as diferenças e o imbricamento entre a
estética e a cognição, que possibilte uma ação ética. Quando todos estamos
dentro dos muros da escola, a vida não parou: a escola é vida - ansiedades,
alegrias, choros, revoltas, afetos, ciências, ensino e apredizagem. A escola se
pretende o lugar, a ela reservado pela tradição pedagógica, em que o ritual
de passagem se dê: o infante, aquele que não fala, adquire a maioridade,
aquele que consegue a automia de falar em público sem o auxilio de outrem.
A
Filosofia, portanto, não está nos bancos da escola para ser um conforto ou uma
preciosidade com a qual se passaria sem. Ela responde a um reclame vindo de
todos cantos. Teria o cientista condições de decidir sobre o uso ético de
suas descobertas e invenções? O que fazer com o "genoma"?, com os
transgênicos?, com a "clonagem"? Respostas a estas perguntas não são
pertinentes apenas a cientistas, está a cargo também de filósofos, sociólogos,
antropólogos. Além disso, o que fazer com a "mídia" diária a
convocar a todos ao consumo desvairado e infindável? Devemos pagar o progresso
com a moeda da desumanização e conviver com a violência por ela gerada?
Pessoas são pessoas enquanto procuram realizar suas infinitas potencialidades,
consumir é apenas uma delas.
Assim, é possível perceber que a Filosofia, enquanto uma disciplina, está na
escola para problematizar e possibilitar com que alunos saibam como
"aprender a aprender" lidar com o mundo em que vivem. Esta é uma das
condições para que tenham chances de serem felizes.
Referências bibliográficas:
COMTE-SPONVILLE, André. Apresentação da filosofia,
Editora Martins Fontes, 2002, SP.
KANT, Immanuel. O que é esclarecimento? In Textos
seletos.
Editora Vozes, 974, SP.
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