Fagulhas
Maluh
Praxedes
escritora
e produtora cultural
malluh@uol.com.br
Deus deve saber que
eu sou o diabo. Fogueirinha, foi o jeito carinhoso que ele achou de me
chamar. Fica me comparando com aquele foguinho que sai do gás do
banheiro: tá sempre acesa! Acho graça, porque com ele é
impossível ficar morna. As coisas acontecem mais ou menos assim:
- Oi, o que é que tu
tá fazendo?
- Agora, agora?
- É.
- Por que?
- Porque eu tô
querendo tomar um vinho contigo.
- Mas tá supercedo!
Não são seis horas, um cara vem instalar um novo número...
- Passo então às
sete e levo o vinho, ok?
Tomo banho às
pressas depois de tentar colocar cada coisa em seu endereço. O
porteiro avisa que o cara tá subindo e eu começo a me lembrar que eu
não tenho nada que combine com vinho e a campainha toca: - Oi, tudo
bem?
Ando com a garrafa na
mão e ele sugere que eu dê uma esfriada no bichinho. - Precisa?...
Tomamos esta e outra e depois outra. Meio bêbados fomos fazendo amor
pelas almofadas, tapetes e camas: - Fogueirinha, ele me cochichou. E
eu fui me entregando de um jeito tão gostoso que foi escurecendo
tudo, a música ficando alta e a voz dele cada vez mais baixa repetia:
- Fogueirinha. - Como é mesmo o barulho do vento na caverna?, eu quis
saber. E ele respondeu soprando de mansinho cada parte de meu corpo.
De cima pra baixo, de baixo pra cima, parecendo um anjo, e eu, o
diabo...
Malluh
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